Epcar – Terceiro Ano 1978

Aluno 76-013
— Baaaandeira!

Não, não mais ouviria as brincadeiras do meu amigo Bandeira. Foi trágica e ao mesmo tempo estúpida a sua perda, meu amigo. Sinto, sabe, que neste ano de tanta alegria eu o comece com esta notícia

Antes de começar a escrever dou-lhe adeus, . . . adeus meu grande amigo desses dois anos.

Rodoviária. Lá estava com minha namorada para dar início a mais este ano. Saía às 15:30 hs. e estava na hora. Aproveitava para dar o último beijo, e lá estava Venison, um colega que seria do meu apartamento. Brincadeiras de reencontro. Às 21:30 hs. chegamos à Escola e estranha notícia percorria: os apartamentos seriam por ordem numérica dentro das turmas de aula. Lá estava Fróes do lado do meu “apê”. É perseguição!

Alguma coisa estava errada. Mas nessa hora só queria ver o meu apartamento. Estava pronto para a revista de leito e conheci os meus companheiros de apê.

— Vocês receberam o apartamento limpo, e assim temos que recebê-lo no final do ano.

— Reunião para o terceiro ano às 12:15 hs. no pátio das paineiras! Dizia o nosso 01.
— Estão atrasados . . . correndo!
— Paga dez!
— Até quando essa loucura!

Realmente alguma coisa mudou.
O nosso Esquadrão! Importados da Academia vieram colocar-nos nos eixos.

— A batida agora é outra . . . repetia o cap. Cunha Gomes.
— Vão comer… e vinha o ten. Carlos Alberto.

Foi duro, mas conseguimos superar essa mudança tão brusca. Depois do choque veio a responsabilidade da sociedade, a nossa gestão 78. E lá estava eu com a responsabilidade do Grupo de Teatro. Teria que lutar muito e também estudar

Até que os dias passaram rápido: com a ginástica variada a cada dia as reuniões às 12:15 hs. e, principalmente, as sete aulas.

E veio a notícia: turma C irá para Santa Cruz!

Era a primeira, de uma série de turmas, a ir para a Base Aérea de Santa Cruz, “O covil das feras”.

Veio então uma outra novidade para o terceiro ano: acampamento dia nove de junho. Agora teríamos algo para vibrar e nos orgulharmos mais ainda desta Escola.

Partimos num dia ensolarado e debaixo daquela mochila e equipamentos de campanha tinha muita disposição a dar.

Nesse primeiro semestre ganhamos grandes batalhas como: mais acampamentos a serem planejados e o nosso corte de cabelo a tesoura. Fizemos também algo inédito no último dia de aula na Escola, que é de derrubar a bandeira em pleno paradão !

Lá estávamos para a última jornada na Escola. Menos sete colegas do nosso efetivo e desejava boa sorte para eles.

— Exame do Cemal para a turma A. Começava a tortura do terceiro ano e as brincadeiras vieram juntas.
— Tira os óculos, Zeemann!
— Chama o infante!

Naquele estreito corredor do hospital uma turma de aula inteira estava à espera dos exames.

— Jorge Luís Fróes, oftalmologia!
— Luís Cláudio otorrino.

O tempo passava nervoso e de vez em quando, saía um de cabeça baixa da oftalmologia. Evitavam-se comentários e eu aproveitava para bater um papo com Camargo sobre minha última poesia.

Prenderam o resultado, mas a maioria já sabia se tinha passado, pois tínhamos feito um pré-Cemal no segundo ano.

E o tempo passou. Chegava a tão esperada hora do adeus. Nas últimas palavras do Exmo. Sr. Comandante, senti a tristeza da separação próxima. Brigadeiro do Ar Godofredo Pereira dos Passos, que nos tinha visto ao assumir comando desta Escola como tímidos e assustados bichos via, agora, a nossa despedida como experientes e maduros terceiro anistas.

Muita coisa mudou nesses três anos. Certezas no coração de cada um que partia. Essa farda azul e desbotada, tinha muito a dizer. A valsa, e veio a esperada valsa do Adeus. Adeus, Barbacena, cidade pacata e pequena, a ti tenho muito a agradecer. No baile, uma lágrima da minha face escorria. Minha garota sorria, minha mãe dançava a nossa valsa.

Acabou . . . será que acabou mesmo? Não. Essa Escola estará sempre na mente de todos que a terminaram, e até na dos nossos colegas que decidiram por outro caminho durante esses três anos. Sempre me lembrarei dos oficiais que me auxiliaram e me fizeram ter uma visão mais clara da vida militar. Agradeço a todos os oficiais desta Escola que talvez não seja mais, mas em especial ao cap. Huber e ao ten. Carlos Alberto.

Desta “Escola da Vida” me despeço com lágrimas nos olhos, dizendo: ADEUS E OBRIGADO!