Numa bela e ensolarada sexta-feira, logo após o almoço, embarcamos em duas aeronaves C-115 Búfalo, com destino à Base Aérea de Santa Cruz, Rio de Janeiro.
Lá chegando, colocamos nosso uniforme de mergulho (o macacão laranja internacional) e fomos levados para o posto do PARA-SAR, localizado na praia de Dona Luíza (Baia de Sepetiba), onde nos foram ministradas as últimas instruções sobre os procedimentos a serem executados durante a sobrevivência no mar.
No decorrer das últimas instruções houve uma sensível mudança de tempo. Ventos começaram a soprar com certa violência, fazendo com que o mar ficasse revolto. Uma ponta de apreensão aguilhoou nossos espíritos, ao observarmos que os botes, nos quais passaríamos quarenta e oito horas, não estavam flutuando, e sim sendo jogados, qual folhas secas, de um lado a outro, apenas seguros a uma corda.
Fomos, então, transportados pela lancha Santos Dumont até o local onde se encontravam os botes, cerca de 1,5 quilômetros de orla marítima. Abandonamos a lancha, auxiliados pelos nossos “Life Preserver Unit” (LP U) e nadamos em direção ao bote.
Após entrarmos no bote, ocorreu um fato inusitado: os bruscos movimentos causados pelo mar encapelado começaram a ficar mais do que incómodos. A maioria dos tripulantes começaram a enjoar e passar mal. Os menos abatidos começaram a, rapidamente, tratar da secagem do bote e da arrumação prevista, pois já se podia sentir a presença da noite. Foi amarrado o toldo, posta a luz de obstáculo e a noite cobriu-nos.
Foi uma noite inesquecível! Molhados e acossados pelo problema de espaço, só nos restava amontoar as pernas no meio do bote, num confuso entrecruzamento. Acordamos algumas vezes durante a noite, quando algum colega colocava a cabeça fora do toldo para desanuviar o estômago e a mente e, ao invés de ar, entrava mais água.
O tempo custou muito a passar, mas o dia amanheceu, trazendo, para alívio geral, um mar bem mais calmo. Decidimos que seria a hora da secagem e abrimos o toldo. Durante a manhã, sobre um fraco sol, enxugamos o bote e tentamos secar nossos macacões. Nossa distração foram os peixes que, saltando fora d’água numa saudação ao sol, brilhavam como peças de prata. Aproveitamos e vasculhamos todo o equipamento de sobrevivência, fazendo uma verdadeira festa de jujubas alimentícias regadas a água enlatada.
Infelizmente chegou a noite, envolvendo-nos como numa gélida e negra luva de torpor. “Demos, realmente, muita sorte” nessa que seria nossa última noite: choveu! E, por causa da chuva, o mar adquiriu uma mobilidade irritante e antártica, tal o frio que sentíamos em nossas costas. Foi outra noite que nenhum de nós esquecerá.
Ao sermos recolhidos, tivemos certeza de que mais uma missão havia sido cumprida, com êxito. Todas as dificuldades passadas começaram, desde aí, a ter um sabor muito diferente: o sabor da experiência vivida.