Epcar – Primeiro Ano 1976

O sonho se realizou. Partimos dos Afonsos às 8:00 hs e sentado ao meu lado, eu conheci o Antônio, sem saber que seríamos colegas de armários. Eram 11:30 de vinte e dois de fevereiro de mil novecentos e setenta e seis quando cheguei a Barbacena. Não sabia até gritarem:

BQ!

Será que a escola está longe? – Não, quando vi ao longe um grande prédio tipo colonial e em sua parede, que dá para a estrada de ferro, ESCOLA PREPARATÓRIA DE CADETES DO AR, meu coração disparou. Disparou mais quando passei pelo portão da guarda e, chegando no pátio da bandeira, ouvi a banda tocar anunciando que os “cadetes” haviam chegado. Senti vontade de chorar, mas alguns colegas, que não conhecia, caçoaram. Resolvi ficar calado. Conhecemos os nossos números, nome de guerra e o alojamento. Ah! se esse alojamento falasse, o quanto não diria!

Veio, então, o primeiro conhecimento da palavra “bicho”. Na fila do rancho os PQDS do terceiro e segundo ano desciam na nossa frente. Malditos PQDS!

— Reunião no cinema para o primeiro ano.

Não, cinema de novo! Já era a 5.a vez que íamos receber aula de Instrução Militar em dois dias.

— Cinema, sentido, viu! . . . Dizia o PQD 001 do terceiro ano.
— O boneco leva a mão na pala e . . . gritava sempre o tenente Olney. Falou, tá falado.

Já estávamos uniformizados, era azul-escuro e eu vibrava.
— Diga o número, nome de guerra e esquadrilha.

Trocava sempre, mais tinha que aprender.
— Sua continência está errada. Não fique nervoso.

Sim, estava nervoso. Na frente de todos dentro de uma sala onde os alunos mostravam medo de serem ridicularizados.

Os dias eram cansativos.

Muitos colegas, que nem cheguei a conhecer, desistiram nessa semana. Tinha que aguentar! Quando começar as aulas melhora, pensava.

É amanhã a aula inaugural.
— Chama aquele louro de bobão!
— Vai lá e desmancha o jogo daqueles dois.

Trote: Por que vieram os veteranos? Usavam uma camisa azul, gravata e tarjeta também azul. Só por isso tinha que me mandar!
— Bicho, vem cá! Fica em sentido ao falar com mais antigo.

Ia e ficava, mas também vai ver comigo um dia. Pensamento constante de um bicho.
— Bicho, prá reta!

Ia, mas no fundo ia com orgulho; sofri hoje, mas pelo menos, dizia — “Sou aluno da ESCOLA PREPARATÓRIA DE CADETES DO AR”!

— Passo o comando da Escola Preparatória . . . E recebemos o sexto uniforme para a passagem de comando. Os bichos deram sorte dessa vez!

Não acredito, . . . estava com o 5.0 uniforme e estava tão diferente, dizia minha garota. Veio logo algo para estragar a alegria do bicharal. Saída aos domingos só de 5.0. Eu ia, e pouco me importava de me chamarem vibrador. Cada dia me orgulhava de pertencer a esta Escola.

Acabaram um pouco as brincadeiras quando veio o baile do bicho. Interesseiros, queriam era entrar no nosso baile. Também quem iria impedir.

Chegamos das férias. Quatro meses para deixar de ser bicho, mas eu gostava, porque nós podíamos fazer as coisas erradas sem ninguém dar parte. Só não gostava quando eles ficavam rindo da minha cara!

Já não tínhamos mais medo da cara feia dos veteranos, embora os respeitássemos. Era 76 se unindo, formando a nossa própria personalidade, conhecendo-se apesar de sermos 374 alunos.

XII NAE, — torcemos juntos, de longe, mas torcemos. Unidos os 3 anos formando um só pensamento. E era nossa! Pulamos e vibrarmos, e ela vinha para a EPCAR. O Colégio Naval e a ESPCEX tinham muito que chorar.

Os dias passavam rápidos e as bimestrais ajudavam, consumindo grande parte do tempo.

Sete de setembro de mil novecentos e setenta e seis. Desfile do C. A. Manhã chuvosa, mas íamos mostrar a todos que estávamos sempre presentes.

Não pude ir, estava baixado. Mas não esqueci, não! Ouvia pelo rádio a nossa banda, que nos acompanhava fielmente em todos os padrões, abafando as outras; e os veteranos gritando EPCAR ao fazerem cruzar armas em frente ao palanque.

HS — 5. Eram as provas finais. Porque não estudei mais um pouco. — Teria dado para passar direto. Muitos colegas partiram para as suas casas, outros diziam que não iam passar, mas eu tinha confiança neles.

HS — 0, prova de física. Eram três de dezembro de mil novecentos e setenta e seis, havia terminado a jornada para os veteranos do terceiro ano e iria começar uma nova para os do segundo ano e o nosso bicharal.

Esse ano passou rápido demais, mas o outro será bem diferente. Não sei se melhor do que este, pois serei um VETERANO!!!